16.12.2019 Lançamento de leonorana #3 Climas na Associação Campo Aberto Launching leonorana #3 Climates at Associação Campo Aberto
16.12.2019 Lançamento de leonorana #3 Climas na Galeria Zé dos Bois Launching leonorana #3 Climates at Galeria Zé dos Bois
22.12.2018 Lançamento de leonorana #2 Famílias na Spirit Shop Launching leonorana #2 Families at Spirit Shop
07.12.2018 Lançamento de leonorana #2 Famílias na Manifesto (Mercado de Matosinhos) Launching leonorana #2 Families at Manifesto (Matosinhos Marketplace)
03.11.2017 Lançamento de leonorana #1 Dietas na Syntax Launching leonorana#1 Diets at Syntax
08.09.2017 Lançamento leonorana #1 Dietas na livraria Inc. Launching leonorana#1 Diets at Inc. bookstore
|
BIBLIOTECA ASSOCIAÇÃO CAMPO ABERTO
BIBLIOTECA DE ARTE GULBENKIAN
BIBLIOTECA DO COLÉGIO DAS ARTES DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
BIBLIOTECA DA FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DO PORTO
BIBLIOTECA DE SERRALVES
|
FBAUP Avenida Rodrigues de Freitas, 265
R. do Lidador
Rua França Junior nº 1
Rua Miguel Bombarda 127
Museu de Serralves Rua D. João de Castro, 210
STET-LIVRARIA
Compras por email / Purchase by email leonorana.revista[at]gmail[dot]com
|
Foi por curiosidade pela crítica que toma certas produções culturais à luz das condições climáticas que o tema “Climas” foi escolhido para este terceiro número da revista Leonorana. Não deixa de ser intrigante a atenção dada aos “climas”, como eixo para análise, fruto da sua ambivalência: por um lado, denota uma preocupação e é sensível às diferenças resultantes da diversidade climática; por outro, lado parece cair com rapidez em preconceitos. Se a abertura a elementos de análise a serem considerados pela crítica é salutar, a tendência para derivar em preconceitos associados aos “climas” deve ser a todo o custo evitada. A edificação do conceito de belo universal, resultante da estética, é uma presumida discussão dos climas frios, e no Sul não parece haver preocupação correspondente. É em torno desse conceito, entendido como universalizante, que as restantes produções culturais e artísticas são interpretadas: ora aproximando-se, ora fugindo, sendo-lhes atribuída a qualidade de relativamente belas ou, então, de serem completamente excluídas da discussão estética por processos de contínua desvalorização. É precisamente perante esta ambivalência que se achou pertinente retomar os “climas” como tema para fazer realçar diferenças, sem as circunscrever em preconceitos. Desafiaram-se os autores dos ensaios a um exercício metodológico de comparação, “comparativismo climático”, entre geografias e/ou tempos distintos. No momento de endereçar os convites, advertiram-se os autores de que “climas” não era propriamente o tema a ser tratado, mas um elemento de análise para averiguar de que modo determina e interfere na identificação de diferenças comparáveis entre si. A rápida sucessão de eventos e a impactante presença de manifestações públicas, dos últimos meses, que alertam para a urgência da atenção climática reforçou, inevitavelmente, a actualidade do tema. A metodologia proposta — “comparativismo climático” — já usada pela ciência desde há largos anos, enquanto suporte na comunicação de previsões que se denunciavam como demasiado abstractas para causarem algum efeito, assenta agora em factos facilmente constatáveis pela experiência directa e no decorrer do actual processo de consciencialização. O clima mudou e sabemos que se encontra em rápida mudança, porque o podemos comparar não só pelo que experienciamos no tempo da nossa existência, mas também porque temos registos de produções culturais de outros tempos que nos indicam como era o clima num “antes” não muito longínquo. Sabemos e não podemos ignorar que uma mudança radical está a acontecer. Afinal, o “comparativismo climático” – que é actualmente realizado em tantos outros domínios do conhecimento como ferramenta de demonstração de que estamos em vias de uma uniformidade galopante – visa precisamente expor ou advertir que é a diversidade que está em risco. O risco que corre a biodiversidade encontra paralelo na diversidade cultural. Não é por isso novidade que tantos trabalhos no domínio cultural e artístico estejam em sintonia com os movimentos cívicos globais para a consciencialização climática. Sobre os ensaios aqui publicados, apresentámo-los sucintamente: os dois textos de Isabel Cristina Pires, originalmente publicados no livro Universal, limitada (Caminho, 1986), inscrevem-se na ficção científica e descrevem cenários futuros definidos pela mudança climática; nos desenhos de Carolina Caycedo, os rios são os narradores da sua própria história e surgem no contexto de disputa internacional pelo domínio das suas águas; Randi Nygård, no seu ensaio, reflecte sobre uma antologia interdisciplinar (editada em conjunto com Karolin Tampere e publicada em 2017) com o título da lei norueguesa, “The Wild Living Marine Resources Belong to Society as a Whole”, e propõe a inclusão de abordagens poéticas para melhor representar os animais e as plantas em termos legais; Isabel Carvalho parte da nomeação de uma planta (o arbusto de Buganvília) para abordar o clima como metáfora, quer utilizada na Viagem em torno do Mundo de Bougainville, quer como instrumento de crítica em Suplemento à Viagem de Bougainville de Denis Diderot; Ana Matilde Sousa estabelece um paralelo entre oscilações climáticas e a recepção internacional da cultura japonesa; o colectivo Coyote apresenta imagens retiradas do apelo à acção pelos movimentos internacionais Youth for Climate; Liv Strand, endereçando-se a diferentes sistemas ecológicos, mostra como composições aparentemente distantes estão de facto interligadas, e Catarina Rosendo ficciona algumas memórias com as quais aborda o terror e o sublime enquanto modelos da relação disfuncional dos humanos com a natureza. / The selection of "Climates" as the theme for the third issue of Leonorana was simply out of curiosity for the critics who address certain cultural productions in the light of weather conditions. The focus on “climates” as axes for analysis - due to their ambivalence - is somehow intriguing: on the one hand, it expresses concern and awareness about climate changes; on the other hand, it seems to turn rapidly into bias. The open-mindedness to the elements of analysis under consideration by critics is perceived as beneficial, but the tendency to move towards “climate” biases should be avoided at all costs. The creation of the concept of universal beauty (as a result of aesthetics) is a presumed discussion in regions with colder climates; in the southern regions, there seems to be no corresponding concern. All the other cultural and artistic productions are interpreted according to said universalising concept: they're either associated with it or completely disconnected; in addition, they can be characterised as relatively beautiful or completely excluded from the aesthetic discussion (due to processes of continuous devaluation). In view of this ambivalence, addressing “climates” as a theme to underline differences - without limiting them to prejudice - was deemed fitting. The authors of the essays were challenged to a methodological exercise of comparison - “climate comparatism” - between different geographies and/or time periods. In the invitations addressed to the authors, they were informed that “climates” was not exactly the theme they should focus on, but rather an element of analysis to deduce how it determines and interferes with the identification of comparable differences. The quick succession of events and the impact of public demonstrations stressing the urgency of climate awareness have inevitably reinforced the topicality of this issue. The proposed methodology (i.e. “climate comparatism”) has been used in science for many years, namely as a method to communicate forecasts that were too abstract to have any effect; nowadays, it is based on facts that can be easily verified by direct experience and during the current process of awareness-raising. The climate has changed and we know it keeps changing rapidly: we can compare it not only by what we've experienced over the course of our existence, but also thanks to the records of past cultural productions - which tell us what the weather was like in the not so distant “past”. We know and cannot ignore that radical changes are taking place. After all, "climate comparatism" - which is now part of so many other fields of knowledge, namely as a tool that demonstrates that we are in the process of rampant uniformity - aims to expose or emphasise the fact that diversity is at risk. The hazards to biodiversity are parallel to cultural diversity. Unsurprisingly, many works in the cultural and artistic fields are in agreement with global civic movements for climate awareness-raising. We will now present the essays included in this issue: two science-fiction texts by Isabel Cristina Pires - originally published in the book Universal, limitada (Caminho, 1986) - that describe future scenarios defined by climate change; in Carolina Caycedo's drawings, the rivers are the narrators of their own history, emerging in the context of international disputes for the ownership of their waters; in her essay, Randi Nygård reflects on an interdisciplinary anthology (published in partnership with Karolin Tamper, in 2017) under the title of the Norwegian law "The Wild Living Marine Resources Belong to Society as a Whole", while suggesting the inclusion of poetic approaches to better represent animals and plants in legal terms; Isabel Carvalho starts by mentioning a plant (the bougainvillea) to address climate as a metaphor, whether used in Bougainville's expedition or as a critical tool in Denis Diderot's Supplément au voyage de Bougainville; Ana Matilde Sousa draws parallels between climate changes and the international reception of Japanese culture; the Coyote collective presents images taken from the international Youth for Climate movements; Liv Strand, while focusing on different ecological systems, shows how seemingly distant compositions are actually interconnected and Catarina Rosendo fictionalises some memories that she uses to address the terror and the sublime as models of the dysfunctional relationship between humans and nature.
|
Longe estaríamos de imaginar que ao tratar do tema da “família” pudessem acrescer dificuldades ao já complicado e delicado trabalho de edição — que é, em certa medida, o de constituir um tipo de família, temporária, com um propósito em vista. Neste número, foram mais os convites declinados, maior o tempo de espera e os ensaios que nunca chegaram do que no anterior e do que tínhamos previsto. A “família” tornou-se, assim, num problema de reflexão editorial. Estará o assunto tão datado que se apresenta agora esvanecido, tendo perdido a força que teve noutros tempos? Ou será um tema demasiado sensível, subjetivamente difícil de lidar, em época de tanta insegurança e instabilidade? O comentário especializado ofereceria certamente uma argumentação coerente e bem estruturada, que talvez explicasse a ansiedade suscitada por um tema tão vasto e complexo. Porém, o projeto desta revista diverge da especialização. (...) / When we chose the theme of “family” we had no idea it would make our editorial job even more complex and tricky, because, to some extent, as editors we also have to form some kind of temporary, goal-oriented family. In this issue, more invitations were declined, more essays failed to be delivered and even the waiting time was longer than in the previous one. Thus, “family” became a matter for editorial discussion. Is the theme so outdated that it has lost the power or appeal it once had? Or, on the contrary, is this a sensitive subject, too emotionally di cult to deal with in today’s shifting and precarious world? Experts would certainly present coherent and well-structured commentaries that might explain the anxiety around this highly charged subject. However, the purpose of this magazine is not specialization. (…)
|
O primeiro número de LEONORANA é dedicado às “dietas”. A escolha deste tema foi fortemente influenciada pela sua insistente presença no nosso quotidiano e, precisamente, também por ser este muito convidativo não apenas à especulação, tanto quanto à experimentação do que é uma prática dietética, numa indissociável relação entre corpo e pensamento. O convite endereçado aos autores dos ensaios pedia-lhes que se debruçassem sobre um aspeto deste tema e que abordassem, a partir dele, relações múltiplas e, se possível, inexploradas. Assim, ensaiaram-se as “dietas” pelos seus excessos (António Preto), tocaram-se nas restrições e na saúde (Fátima Vieira), cruzaram-se com a biografia pessoal, com o deambular geográfico e a contextualização política (Tânia Espinoza), experimentaram fazer-se encontrar na interseção das diferenças culturais (Raimundas Malašauskas), procuraram-se na sensibilização ecológica (Isabel Carvalho), desceram até aos rituais ancestrais (Kate Southworth), fizeram-se notar como instrumento político (Carla Zaccagnini), encararam-se na sua função no transformismo identitário (Ana Matilde), recriaram-se pelo desenho (Ana Manso), apareceram metonimicamente na gravura (João Loureiro) e, por fim, foram identificadas como fazendo parte da espiral cosmológica do pensamento macrobiótico associado ao movimento New Age (autor desconhecido). O tema não se esgotou e tantas foram as ideias que ficaram no plano editorial que é possível a sua continuação num outro número. / The first issue of LEONORANA is dedicated to “diets”. The decision to select this theme was strongly influenced by its continuous presence in our daily lives and how it promotes speculation and the experimentation of dietetic practices - according to an indivisible relationship between body and thought. The essayists were invited to reflect on a certain aspect of said theme and touch on multiple and (if possible) unexplored relationships. Therefore, the essays focused on “diets” and excess (António Preto), dietary restrictions and health (Fátima Vieira), personal biography, geographical wandering and political contextualisation (Tânia Espinoza), interchange of cultural differences (Raimundas Malašauskas), ecological awareness (Isabel Carvalho), ancient rituals (Kate Southworth). Their role as political instruments (Carla Zaccagnini) and the way they influence identity (An: a Matilde) was also addressed. They were depicted through drawing (Ana Manso), emerged metonymically in engravings (João Loureiro) and were identified as being part of the cosmological spiral of macrobiotic thought associated with the New Age movement (unknown author). The authors did not exhaust the theme and since there are still so many ideas at an editorial level, we will be able to address them in a following issue. |